Vinícius Aleluia CRM-BA: 19836, Roberto Aleluia CRM-BA: 5296, Hélio Roberto O. Santos CRM-BA: 4106 | (Grupo de Cirurgia do Joelho – ACIJ)
A osteoartrose é considerada a forma mais comum de doença articular e é uma das principais causas de redução da qualidade de vida de pessoas com idade superior a 50 anos. Estima-se que 75% dos indivíduos com idade acima de 65 anos apresentem osteoartrose em uma ou mais articulações. O custo para o tratamento desta patologia tem crescido anualmente. Isto se deve, principalmente, a uma maior expectativa de vida da população e a um crescente número de casos de doenças degenerativas articulares. No Brasil, uma projeção do IBJE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indica que em 2050 a parcela de pessoas com idade superior a 65 anos aumentará de 5% para 18%.
Esta patologia possui um caráter inflamatório que leva à degeneração e destruição da cartilagem articular e de todos os componentes da articulação, assim como provoca deformidades. Tem um forte componente genético e, em grande parte das vezes, tem a sobrecarga mecânica como iniciadora do processo de degradação da cartilagem articular. Trata-se de uma doença lenta, porém progressiva e incapacitante. O paciente se queixa de dor, edema (“inchaço”) e creptação (“estalidos”) no joelho, dificuldade para se locomover e, principalmente, para subir e descer escadas. Em geral o paciente também relata uma piora da qualidade de vida em virtude da limitação funcional que a doença proporciona.
A osteoartrose é uma doença que não tem cura. Existem diversas modalidades de tratamento que visam, em grande parte, retardar a evolução da patologia, reduzir os seus sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Em geral, a única maneira de tratar definitivamente a doença é através de abordagem cirúrgica. Os tipos de terapia variam desde simples modificações nos hábitos de vida a cirurgias como a artroplastia (prótese) total de joelho. O que vai determinar a opção por determinado tipo de tratamento é um conjunto de fatores que incluem: idade do paciente, intensidade dos seus sintomas e estágio que se encontra a doença. O tratamento não cirúrgico, também conhecido como tratamento conservador, geralmente é a opção para pacientes com idade inferior a 55-60 anos, com pouca ou nenhuma deformidade nos joelhos, sintomas leves a moderados e com doença em estágios iniciais.
As opções de tratamento conservador incluem medidas não farmacológicas: perda de peso, fisioterapia, atividades e esportes que determinem menor impacto nos joelhos, porém proporcionem fortalecimento muscular, em especial da musculatura da coxa (bicicleta, pilates, natação, hidroterapia, hidroginástica, dentre outras). Existem também as opções de terapia alternativa como: homeopatia, acupuntura e medicamentos fitoterápicos. Outra opção é o uso de medicações orais: analgésicos, aintiinflamatórios não hormonais, corticoides, medicações condroprotetoras (sulfato de condroitina e glicosamina), extrato insaponificável de soja e de abacate e diacereína.
Outra modalidade de tratamento conservador consiste nas injeções intra-articulares que podem ser à base de corticoides ou de ácido hialurônico (viscosuplementação), sendo esta última uma modalidade relativamente nova para o tratamento da osteoartrose. O uso intra-articular de corticoides é uma terapêutica que tem o principal benefício associado a um alívio imediato da dor e da inflamação causada pela artrose, destacando-se uma ação de até quatro semanas após sua aplicação. Há, no entanto, uma preocupação em relação à toxicidade dos corticoides para com os condrócticos (células da cartilagem), porém existem evidencias de segurança suficiente para o seu uso.
A viscosuplementação consiste na injeção intra-articular de ácido hialurônico. Está indicada para tratamento da ostaoartrose, melhora da função e regeneração da cartilagem articular e após artroscopia do joelho. Tem o objetivo de restaurar as propiedades do líquido sinovial (líquido normalmente presente nas articulações do corpo humano) objetivando-se melhora dos efeitos mecânicos, melhora da dor e buscando-se efeito anti-inflamatório e de proteção da cartilagem articular. Mecanicamente, o ácido hialurônico atua melhorando a distribuição de forças e diminuindo a pressão na articulação do joelho. Sua presença estimula maior produção de ácido hialurônico pelas sinoviócitos (células presentes nas articulações). Também atua bioquimicamente, diminuindo os impulsos nervosos e a sensibilidade nas terminações nervosas, o que teoricamente implica em melhora da dor do paciente.
A aplicação articular pode ser de três ampolas simultâneas em cada joelho ou de uma ampola por joelho, por semana a depender do tipo de ácido hialurônico que esteja sendo utilizado. Estudos mostram que os benefícios da viscosuplementação se iniciam a partir da 4-5 semanas após a infiltração e podem perdurar por seis meses e até um ano após a aplicação. Sabe-se que os pacientes que mais se beneficiarão desta modalidade terapêutica são aqueles com doença em estágio inicial. Efeitos adversos podem acontecer em 4,2 % dos pacientes, os quais podem apresentar inchaço, dor, calor e vermelhidão local. Estas manifestações podem ser resolvidas com repouso, gelo, elevação do membro e uso de anti-inflamatórios.
Estudos observaram efeito estrutural benéfico da viscosuplementação e biópsias realizadas seis meses após a injeção articular do ácido hialurônico mostraram reconstituição da camada superficial da cartilagem articular. Foi observada também diminuição da perda de espaço articular um ano após o procedimento. Economicamente, estudos têm demonstrado que, quando adicionada ao tratamento da osteoartrose dos joelhos, a viscosuplementação apresenta boa relação de custo e efetividade, sendo inclusive capaz de retardar a necessidade de uma cirurgia de prótese total de joelho.
O paciente deve ser parceiro do médico e deve entender as características da doença e a importância da adesão ao tratamento. A patologia não tem cura, mas pode ser controlada com o uso de medicações, atividades físicas, fisioterapia e perda de peso. A viscosuplementação é uma opção custoefetiva que pode melhorar os resultados do tratamento da osteoartrose, além de ser um procedimento ambulatorial, de baixa complexidade e que apresenta baixos riscos.